terça-feira, 31 de março de 2009

Câne Láions: Ô Lôôôco meu!!

Hoje em um momento de ócio no meu trabalho, aquelas coisas realmente difíceis em uma agência mais que volta e meia surgem como garoto querendo uma balinha de graça na venda.
Mas isso foi muito bom, porque dando aquela azedada na internet achei esse texto no site do Clube de Criação do Rio de Janeiro, escrito pelo redator Leonardo Luis, falando sobre essa imagem de Cannes para os juvenis da propaganda e descolados em geral que sonham em ganhar o maior prêmio de propaganda do mundo.



Câne Láions

Leonardo Luz - Redator da AW/Rio

Cannes. Cannes. Cannes. Essa pequena palavrinha metida a besta povoa os sonhos de qualquer estagiário de publicidade, ou criativo em início de carreira. E como todo criativo que se preze tem que falar estrangeirismos ao pé da letra, a pronúncia correta é câne. Sem o "esse" do final. Cannes – dizia eu – é a palavra mágica que já nos faz começar a bolar até o discurso de premiação. Tem gente que desdenha, finge que não liga, diz que prêmio é secundário. Até é. Quando não foi você quem ganhou. Ganhar um prêmio em Cannes é, além de uma deliciosa masturbação no ego, uma ótima oportunidade para um desabafo para alguns. É o desabafo pra aquela gostosa que não quis nada com você na faculdade; é a justificativa pra todas as idéias idiotas que você já teve até hoje e, mais do que qualquer coisa, é a prova de que valeu a pena você largar a faculdade de direito no sétimo período e ir fazer publicidade, e ainda tirar uma onda de intelectual e falar que se não fosse essa bagagem cultural toda você hoje não estaria aqui. É até a justificativa praquele aumento que te prometem há quase um ano. No fundo você quer mesmo é convencer sua mãe de que ela não jogou fora os quarenta e dois meses de faculdade que ela pagou pra você e você abandonou. E quando se ganha Cannes, até essa cola.

E quando você ganha Cannes, você transcende a uma casta da sociedade formada somente por iniciados. Um tipo de maçonaria. As pessoas te olham diferente. Não importa se, quando você voltar, vai continuar ganhando a mixaria que ganhava antes, se aquela gostosa vai continuar não querendo nada com você, afinal, ela faz nutriçâo, e pra ela, Cannes deve ser algum tipo de molho pra comer com fois gras, ou se seu pai vai continuar achando você um vagabundo. Nada importa. Você alcançou o céu. Nada pode te deter agora. Daqui há trezentos anos, quando acharem resquícios da um povo antigo que fazia uma coisa estranha chamada propaganda, seu nome vai estar lá. Como um fóssil, eternizado.

Mas não bebe muito na comemoração por que amanhã seu vôo é às sete da manhã por que a agência não vai bem das pernas, sabe como é. E ao invés daquele aumento, você vai é ganhar mais trabalho, afinal, qual cliente não quer ter um sujeito que ganhou Cannes trabalhando na conta dele. E com mais trabalho, agora mesmo que você não vai ter tempo de explicar praquela gostosa que não, Cannes Lions não é uma
raça rara de felinos que vive em alguma ex-colônia francesa encravada na África remota. E chegando em casa depois das três da manhã e acordando ao meio dia pra air trabalhar de novo, seu pai vai ter mais certeza ainda de que você é um vagabundo, e que ainda bem que ele não paga mais suas contas. Mas nada disso importa. Você ganhou Cannes. Você agora já pode dormir o sono dos justos. Mas só quando chegar em casa, por que dormir na poltrona da classe econômica não é tarefa das mais fáceis.

Fonte: http://www.ccrj.com.br/

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